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28 de out. de 2011

Agroecologia e reforma agrária

No post sobre Agroecologia e Segurança alimentar foquei na questão da desvalorização da agroecologia e dos sistemas agroecológicos perante o modelo de produção agrícola atual, caracterizado pela monocultura, pela imbricada cadeia produtiva, pelo uso de insumos agrícolas e pelo referencial econômico que baliza todas as ações do setor.

http://arqforum.blogspot.com/2010/08/campanha-e-plebiscito-pelo-limite-da.htm


Foi pontuado também como a hegemonia deste modelo nas instituições econômicas e políticas desfavorece a agroecologia e os produtores, apesar dos programas, secretarias, ministérios e toda gama de estruturas criadas com este fim, posto que não é de interesse dos mesmos  o desenvolvimento de um modelo que dê autonomia aos produtores, questione a estrutura agrária e garanta soberania alimentar, diminuindo o colégio eleitoral e a condição clientelista, principalmente no campo.

A questão agrária está intimamente relacionada ao advento dos sistemas agroecológicos no Brasil, visto que somente com acesso a terra aos pequenos produtores será possível desenvolver um modelo local de produção agrícola, mais justo, viável econômica, social e ambientalmente, por motivos já postados. Da mesma forma se dá a garantia de soberania alimentar e qualidade de alimentos, haja vista as consequências proporcionadas pelo atual modelo de produção, com famintos pelo mundo todo e alimentos recheados de veneno, apesar da alta tecnologia envolvida e elevados gastos públicos e privados com pesquisa e subsídios.

“Sem a terra e o território não há como garantir a soberania alimentar. E o papel das populações, de garantir e conservar a nossa biodiversidade, está intimamente associado ao direito de termos uma alimentação adequada, saudável. Por isso que é indissociável. Falar da terra, do direito à terra e ao território, é falar na concepção agroecológica, na diversificação da produção, na conservação da biodiversidade, na valorização das culturas alimentares locais, além de uma alimentação adequada e saudável, trazendo consequências à saúde, com uma alimentação livre de agrotóxicos e transgênicos;(...)Onde há diversidade com qualidade as pessoas estão com mais saúde.” (Maria Emilia Lisboa Pachego. Entrevista a IHU)

Em termos culturais, é somente com a garantia de terra e delimitação de territórios que diversas comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas poderão existir social, econômica, política e culturalmente.

Vislumbrando todos estes pontos, é possível se posicionar descrentemente diante das políticas governamentais e da publicidade mentirosa divulgada pelo setor privado em campanhas como o Sou Agro

O financiamento de instituições públicas como a Embrapa tem favorecido principalmente o agronegócio com o desenvolvimento de OGM’s e não a melhoria de sistemas agroecológicos, assim como o CTNBio tem aprovado irresponsavelmente as sementes modificadas para a comercialização. 

O perdão das dívidas de grandes latifundiários é uma constante, enquanto pequenos produtores rurais lutam pelo microcrédito ou pela renegociação de seus compromissos diante de uma safra de perdas ou pela inconstância do mercado. 

A luta pela terra é criminalizada, ainda que se esteja requerindo terras devolutas, invadidas não por produtores rurais, mas pelos grandes do agronegócio e doutores da política.

A manutenção cultural de comunidades tradicionais é sobreposta pela identidade que o governo pretende criar, de uma grande país verde repleto de unidades de conservação, ou melhor, um grande supermercado de produtos naturais que esperam para ganhar patentes internacionais.

Território indígena e comunidades ribeirinhas então? Áreas de reserva de valor para a expansão da pecuária, da soja e da cana-de-açúcar (fantasiada agora de combustível sustentável) ou para a criação da próxima hidrelétrica, maior representante do plano de desenvolvimento estratégico do governo, que exclui, oprime e fere os direitos humanos em prol da aceleração do crescimento.

Jamais a justiça ambiental e a soberania alimentar serão garantidas neste cenário de desterritorialização, uma vez que a luta pelos direitos territoriais, pela reforma agrária, pelo direito ancestral a cultura esta sendo criminalizada. Ambientalmente, estas lutas estão relacionadas diretamente ao direito aos bens coletivos, aos recursos naturais, a proteção ambiental, a biodiversidade e a valorização da diversidade de formas de se viver.

Posto o quadro, com que cara vocês acham que os representantes brasileiros vão entrar na Rio+20? Com a mesma cara lavada de quem adentra o recinto que legitima todas as ações acima, por isso, não acreditem que a economia verde vai salvar o planeta ou que a sociedade civil será ouvida. Nada disso vai acontecer.

2 comentários:

AF Sturt Silva disse...

Seguindo teu blog, quero dizer, a procura de um serviço RSS.

Sturt Silva, também colaborador do blog Ousar Lutar Ousar Vencer!

Juliana Higa Bellini disse...

Achou o Rss do blog Sturt??

Obrigada pela apreciação!