Para solucionar os males da humanidade, a fome, a luxúria, a degradação ambiental, o egoísmo...eis que surge o mais novo produto da indústria capitalista: a Economia Verde (rufos de tambores).
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Ainda vamos ouvir falar muito desta nova forma de gerenciar os negócios, que permite o crescimento econômico enquanto garante a preservação dos recursos naturais e a preocupação com as questões sociais. Só não falaram como. Segundo a revista Meio Ambiente e Cidadania, não há um conceito chave para o que significa Economia verde, no entanto sabe-se que ela promete o estímulo ao crescimento econômico associado ao progresso social e a proteção ambiental.
Na encruzilhada, este novo paradigma compreende que a ação humana tem provocado um desequílibrio entre a produção e os limites dos recursos da Terra e por isso tem como objetivo assegurar que este limite não seja ultrapassado. No entanto, sendo um modelo econômico, não será comprado pelas economias mundiais já que inviabilizaria o desenvolvimento das mesmas e, como temos vistos nos acordos internacionais, esta não é uma possibilidade.
Mas...diante do quadro a solução é o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias. A ideia não é nova, assim como a refutação também não. Georgescu-Roegen já apontava em 1976 que a resposta para a crise econômica e ambiental não está somente nas novas tecnologias, mas na compreensão do potencial de auto-organização da natureza e da produtividade primária dos ecossistemas, consolidando a proposta de bioeconomia.
“A tese favorita dos economistas diz que a tecnologia é sem limites, seremos sempre capazes de encontrar um substituto para um recurso escasso (...). Esta é uma forma grosseira de pensamento linear. Ainda que a tecnologia continue a progredir, isto não implica que ela exceda um dado limite; uma sequência crescente pode ter um limite superior.”
A questão das patentes sobre estas novas tecnologias é muito elucidativa. As empresas privadas detentoras destes direitos vendem-as com alto valor de mercado, o que inviabilizada a amplitude de sua aplicação, o que por sua vez recai sobre o paradigma econômico anterior e não sobre a economia verde.
“ Para isto é necessário construir uma racionalidade social e produtiva que, reconhecendo o limite como condição de sustentabilidade, funde a produção nos potenciais da natureza e da cultura.” (Saber Ambiental, Henrique Leff, 2008)
Para contar com a difusão destas tecnologias, a revista aponta metas irreais para a atual organização das nações que estão mais preocupadas com seu balanço interno, como contar com a cooperação internacional para lidar com problemas globais, maior atuação dos governos para o desenvolvimento de tecnologias verdes e investimentos pesados para a substituição das velhas tecnologias. E ainda que estas tecnologias verdes fossem aplicadas, o passo seguinte, de diminuir a pobreza são outros 500.
Isto faz muito sentido na análise de Gutman (1986) que aponta para as dificuldades que paradigmas como os da economia tem de incorporar processos ecológicos a longo prazo, como os valores humanos e as significações culturais no cálculo econômico.
A Rio+20 tem a economia verde como um de seus eixos principais, mas terá de lidar com uma diferença fundamental: para os países ricos, como define Leff, os problemas ambientais são somente uma questão de ética frente a abundância, já para os países pobres, envolve questões de sobrevivência, pobreza crítica e dignidade humana. (Leff, 2008).
A mais, reflexos do insucesso já puderam ser vistos quando da tentativa de renovação do Protocolo de Kyoto, que apontava para um tema específico, a diminuição das emissões de GEE, o que dizer então de um encontro que vai discutir muitas outras questões globais.
Georgescu-Roegen finaliza:
“Será que a humanidade dará ouvidos a qualquer proposta que implique em limitação de seu conforto exossomático? Talvez nosso destino seja uma vida extravagante, em vez de longa. Deixemos que outras espécies sem ambição espiritual, com as amebas, sejam herdeiras da terra que ainda será banhada pela abundante luz do sol.”
Fonte:
Revista Meio Ambiente e Cidadania, nº 35, 2011
Georgescu-Roegen, N. Energy and Economic Myths, 1976
Leff, Enrique. Saber Ambiental, 2008
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