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20 de ago. de 2011

Igreja, aborto e transgênicos


Com a visita do Papa Bento 16 à Espanha e sua declaração contrária a diversos acontecimentos como os casamentos homossexuais, e mais especificamente a legalização do aborto em alguns países, algo não pode deixar de ser observado.

 Imagem de Fabiano Vidal

O Vaticano desaprova o aborto alegando ser um pecado digno de excomungação, já que é um ato contra a vida  e a mesma, para os cristãos, é garantida no momento da concepção e acima de tudo, é um dom de Deus. 

Na verdade, não há nada específico sobre o aborto nas escrituras sagradas, posto que tal ato era impensável para a época. Por isso a questão do aborto nem sempre foi desaprovada pela igreja e passou a sê-lo somente em 1869 a partir de um acordo entre Papa Pio 9° e Napoleão 3°. Atualmente a referência está no Código do Direito Canônico.

No entanto, a mesma igreja que desaprova o aborto apóia a pesquisa e o desenvolvimento de organismos geneticamente modificados (OGM), o que em essência é também a manipulação da vida, ou melhor, a manipulação de organismos vivos criados por Deus, manuseados e processados como simples objetos, reduzindo-os a mercadorias no mundo capitalista.

O apoio do Vaticano aos OGM’s não é oficial, mas existem indícios da aprovação:

“Em conformidade com as recentes descobertas científicas, existe um imperativo moral de estender os benefícios desta tecnologia (os transgênicos) às populações pobres e vulneráveis que desejarem, em uma escala maior e em condições que aumentem seu nível de vida, melhorem a sua saúde e protejam o meio ambiente.” (Zenit.org, 2/12/2010)

Assim, a posição pró-OGM esta fundamentada na ideia de que a disseminação destes organismos tem o potencial de reduzir a fome no mundo, principalmente nos países mais pobres. Sorte que nem todos os clérigos pensem assim, para Benedict XVI as causas da fome estão mais relacionadas a distribuição e a partilha do que a produção de alimentos especificamente.

Sobre isso a igreja colocou algumas ressalvas, sabendo que não seria uma situação de causa e efeito quando da disseminação de OGM’s, já que as origens da fome ‘podem’ estar também relacionadas a infra-estrutura, meio ambiente, educação, política, dentre outros fatores.

O uso de OGM’s pelo mundo ocorre há algum tempo  (cerca de 15 anos) e nem por isso o número de famintos diminuiu e muito menos a pobreza, como teimam em relacionar. Dados de 2009 revelam que a produção com uso de OGM’s cresceu 13% nos países em desenvolvimento, cobrindo quase metade das terras aráveis do mundo e, no entanto, a número de famintos chegou a fantásticos 1 bilhão de pessoas!

A igreja ainda explica o ocorrido através do Cardeal Turkson, afirmando que a indústria de biotecnologia é justificada em querer recuperar seus investimentos científicos ao comercializar seus OGM’s, impor o controle de sementes e sobretudo, ao acesso ao alimento e se sobrepor à soberania dos países.

Assim, vemos que a igreja e o Estado possuem dois pesos e duas medidas. Para as mulheres que abortam e para os médicos que realizam o aborto, a criminalização pela Estado ‘laico’ (em países democráticos, mas esta é uma outra questão) e a excomungação pelo Vaticano; para os cientistas e os donos da indústria de biotecnologia, o apoio as pesquisas, os meritosos doutorados oferecidos pelo Estado e o aval do Vaticano, que divulga (nas entrelinhas para não causar polêmica) aos seus fiéis as benécies dos transgênicos. Dividiremos todos então, o pão envenenado.

Fontes citadas:

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