Fonte: sosriosdobrasil.blogspot.com |
Este é o segundo artigo da série “Energia para um mundo sustentável”. No primeiro artigo tratamos da questão dos combustíveis fósseis. Neste, discutimos os malefícios e benefícios socioambientais relativos a geração de energia elétrica por meio das hidrelétricas.
Nas hidrelétricas, a energia potencial da água armazenada no lago a montante da barragem é transformada em energia cinética através da condução da água por tubulações que por sua vez movimentam enormes turbinas geradoras de energia elétrica.
A energia elétrica produzida desta forma é considerada, inclusive por muitos ambientalistas, como energia limpa e renovável e porque não verde! Esta forma de produção tem se intensificado no Brasil nos últimos 10 anos e de acordo com o último Plano Decenal de Expansão de Energia, publicado em 03 de junho de 2011 pelo Ministério de Minas e Energia, teremos mais 30 hidrelétricas em operação até 2020 – 10 somente na região amazônica. Os seus defensores partem do princípio que necessitamos de mais energia para manter o atual nível de crescimento econômico do Brasil – crescimento este, que conforme já citamos aqui no blog, é baseado em um modelo econômico totalmente torpe.
No entanto, ao analisarmos como estes empreendimentos são conduzidos e seus impactos negativos desconsiderados, percebemos que este título de energia “verde” não passa de um discurso hipócrita com interesses excusos. Ao continuar investindo neste tipo de geração sem questionar as bases sobre a qual é realizada, nossos governos perpetuam a prática de se beneficiar as grandes corporações que bancam suas campanhas, enriquecendo cada vez mais seus acionistas e dirigentes, enquanto milhares, senão milhões de pessoas, sofrem com os impactos deste processo: as represas acarretam em mais impactos negativos sobre o ambiente e geram mais pobreza para a população.
Além disso, como já apontam alguns estudos, sob o ponto de vista das emissões de gases de efeito estufa, os empreendimentos hidrelétricos também não possuem nada de sustentáveis e limpos. As áreas alagadas emitem quantidades consideráveis de metano (gás com potencial 25 vezes maior que o dióxido de carbono na contribuição no efeito estufa) em função da degradação em ambiente anaeróbio da vegetação, que é liberado nas turbinas. Com efeito, não poderíamos sequer considerar a emissão de créditos de carbono nestes casos.
A destruição de áreas de floresta, principalmente na região amazônica, cessam diversos serviços ambientais proporcionados por esta, os quais favorecem a manutenção da biodversidade. Esses serviços trazem mais benefícios sociais e econômicos do que a destruição da floresta. Além do mais, essa destruição põe em riscos diversas comunidades tradicionais, como as indígenas e ribeirinhas, ferindo e matando culturas milenares antes mesmo da sociedade ter conhecimento dessas culturas, contrariando a própria Constituição Federal e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho da qual o Brasil é um signatário.
Percebe-se, através destes poucos exemplos como a questão da energia hidrelétrica é mais obscura do que propagam seus defensores beneficiários. Mais racional, acredito eu, seria investir em eficiência e na diversificação da matriz, beneficiando outras formas de geração, menos poluentes e impactantes, como solar, eólica, co-geração e pequenas centrais hidrelétricas.
Só para terminar, citando um dado, o Brasil ainda desperdiça o equivalente à energia que será gerada por Belo Monte por ano. Um estudo publicado pela Unicamp em 2006 aponta que o país poderia se manter nos mesmos padrões somente com 50% da energia que consome, reduzindo 30% com eficiência e conservação e 20% com perdas em linhas de transmissão e gerados antigos. E para auxiliar nesta tarefa, contamos agora com a norma ABNT NBR ISO 50001, que trata dos sistemas de gestão de energia: ferramenta fundamental para a gestão energética nas empresas, edificações e estabelecimentos comerciais. Soluções outras temos, o que falta mesmo, como sempre, é vontade política! Isso é Brasil...
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