A atual
crise ecológica tem levado alguns seguimentos do movimento ambiental a
questionar os paradigmas teóricos que fornecem as bases e legitimam o modus operandi da economia, inclusive na sua fase atual (e ao meu ver, a mais cruel) conhecida como neoliberal. A visão de mundo mecanicista e cartesiana, que ainda compartilhamos, constitui o arcabouço de valores no qual se construiu a teoria econômica
vigente, que baniu o ambiente de seus modelos de compreensão da
realidade, o que, por sua vez, acarretou nos processos de destruição e
degradação ecológica e social que presenciamos em nosso dia-a-dia.Conforme
foi se ampliando a percepção desta crise, a partir dos anos 1970, com o
início da discussão em torno da temática ambiental, configurou-se um
conceito de desenvolvimento sustentável, que reintegra os potenciais da
natureza, as externalidade
sociais, os saberes subjugados e a complexidade do mundo, que foram e
são negados pela racionalidade mecanicista, simplificadora, unidimensional e fragmentadora que conduziu o processo de modernização.
No curso desta conceitualização, o termo desenvolvimento sustentável foi cooptado e proclamado por políticas neoliberais, através do que poderíamos chamar de economização da ecologia, impregnando o discurso ambientalista, que afirma nestes moldes, que o mercado e seus mecanismos é capaz de obter a mais eficaz alocação de recursos e a mais alta produção concomitante com a mais justa distribuição de renda e a mais correta utilização dos recursos ambientais, ou seja, bastaria internalizar os custos ambientais. Este método leva à crença de que tudo pode ser reduzido a um valor de mercado, representado nos balanços contábeis e índices de desenvolvimento. Esta é justamente a esfera de domínio da Economia Ambiental.
Esta valoração dos bens e serviços ambientais subestima seu valor (além de negar a natureza como potencial para o desenvolvimento), sendo menirosa e ilusória, uma vez que se levanta a questão de como comensurar o incomensurável? Qual a real capacidade que o mercado já demonstrou de valorar justamente a natureza e a cultura, de internalizar todos os custos ambientais, de dirimir os conflitos e reduzir as desigualdades sociais, de reverter a lei da entropia e de predizer as preferências das gerações futuras? Isto é igual a cabeça de bacalhau – ou alguém já viu isso?
No intento de resolver estas questões, surge a escola da Economia Ecológica, que subsume o sistema econômico no sistema ecológico (ou ecossistema). A sustentabilidade passa a ser entendida como a manutenção de estoques físicos de capital natural e não mais como a atribuição de um valor de mercado aos mesmos. Entende-se também que a economia, como subsistema aberto (ao fluxo de materiais e energia) está submetido às Leis da Termodinâmica. Isto implica que a economia deve ser compreendida no contexto do mundo biofísico sob o qual se desenvolve. Desta forma, temos que a principal missão da Economia Ecológica é desenvolver o arcabouço teórico/prático que permita a análise das interrelações entre ambos os sistemas, sem deixar de reconhecer a insuficiência dos métodos e técnicas de cada uma das ciências, criando o seu próprio corpo conceitual e instrumental.
Este novo entendimento incorpora e integra diversos conhecimentos, que incluem e não se limitam: teoria geral dos sistemas, modelos matemáticos não-lineares, termodinâmica de estruturas dissipativas e complexidade. Enquanto este corpo de conhecimentos se desenvolve e se firma como uma alternativa ao atual paradigma científico, permanecem em aberto algumas questões com potencial unificador entre economia e ecologia, dentre elas:
- Entendimento das interrelações entre os sistemas ecológicos e econômicos, de suas complexidades e forma de coevolução;
- Compreensão dos balanços energéticos e de materiais nas e das interrelações ecossistema-economia e;
- Determinação das capacidades de suporte e resiliência dos ecossistemas, como fonte de matéria e energia e sumidouro de rejeitos.
Um comentário:
Muito legal o Blog, vcs estão no famoso ócio produtivo, rsrsrs.
Gosto bastante desses debates, vou curtir mto acompanhar o Grupo de Estudos Ambientais de Cumuruxatiba, na Unidade Avançada de Pesquisas Aquarela.
Sinceramente tenho mtas duvidas para fazer um aprofundamento dessas discussões, acho muito difícil que dentro do capitalismo exista alguma proposta com poder para superar a capacidade de adaptação do sistema e as barreiras colocadas pela economia de mercado e a incessante busca por lucro.
Será que é possível uma mudança de trato com a questão ambiental dentro de um sistema capitalista? Penso que não se trata da falta de uma proposta ou um modelo teórico para mudar a relação de nossa sociedade com a natureza, mas sim da necessidade de se criar uma nova sociedade, organizada sobre pressupostos éticos, morais e ambientais completamente distintos dos que temos hoje.
Não acho que podemos criar modelos que, inseridos nessa sociedade, possam melhorá-la na proporção em que realmente necessitamos, acredito que o precisamos é de uma sociedade que viva em um estágio de consciência capaz de ter como utopia a relação Sociedade x Natureza que tanto almejamos.
É importantíssimo o acumulo gerado pelas discussões que vcs estão fazendo, pois acaba por se formar como um programa para a questão ambiental, algo que praticamente inexiste na forma e intensidade necessárias para o planeta e seus pobres(literalmente) habitantes.
Continuarei acompanhando as discussões, gostei mto, abraços!
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