Nossa, essa cartilha é a master
furada!! Leiam e não me desenganem.
A cartilha intitulada "O futuro que queremos - Economia verde, desenvolvimentos sustentável e erradicação da pobreza" apresenta toda a introdução da questão ambiental, desde a ECO-92
até os dias de hoje na RIO+20, com todo o otimismo dos ambientalistas abraça
árvore que esperam que líderes mundiais venham a salvar o planeta, até porque
já ficou bem claro onde cabe a participação popular neste evento.
Não vou retomar a crítica da
sustentabilidade e da economia verde, que já exaurimos por aqui, mas algumas
frases apresentam claramente (ou não) a ideologia que rege a publicação. Eis a
pergunta já na página 8: “É preciso abandonar ou reduzir drasticamente o uso de
tudo que conquistamos em termos de consumo e tecnologia do mundo moderno, para
viver de maneira sustentável?”...1º: nós quem??? Quem somos esse nós?! Até onde
tenho lido esse mundo de tecnologia e consumo não faz parte da totalidade dos
moradores da Terra, aliás da minoria deles, portanto enquanto se consome no mundo
do conto de fadas se produz no mundo de verdade, e não simplesmente, mas as
custas de vidas, trabalho e exploração do homem e da natureza, assim para viver
de maneira sustentável, sim, você terá que abrir mão de suas tecnologias e
consumo ilimitado.
Um ponto importante e positivo é
que não houve incentivo as hidrelétricas como fonte de energia, já que muitos
(inclusive e principalmente o governo) insiste em afirmar que as hidrelétricas
são uma fonte sustentável de energia, só porque utilizam um recurso renovável,
desconsiderando todo o impacto ambiental e humano da obra, mas também já
falamos sobre isso por aqui.
E mais uma vez na página 10 eles
generalizam o mundo, sem diferenciar os que consomem e os que produzem:
“Estudos mostram que desde os anos 80 a demanda da população mundial por
recursos naturais é maior do que a capacidade do planeta em renová-los.” Desde
bem antes dos anos 80 a desigualdade não permite que todos os representantes
humanos consumam da mesma maneira, e isto inclui itens básicos para a vida,
como água de qualidade e alimentos, portanto e novamente é uma parte pequena da
população que tem demandado da natureza tamanha quantidade de recursos.
A parte de redução da pobreza é
ótima, já que segundo a publicação temos que dar condições aos países menos
desenvolvidos de encontrar caminhos para se adaptar e sobreviver, no caso se
adaptar e sobreviver diante da previsão do aquecimento global. Neste caso, já
fica claro que as mudanças realmente acontecerão (apesar deste evento ainda não
ser um consenso científico). Depois me pergunto que condições seriam estas?
Começando por devolver os bens naturais expropriados, igualdade de voto em
organizações mundiais, nacionalizar empresas públicas e acreditar que os países
subdesenvolvidos sabem o que é melhor para eles, e para longe com esse papinho
de auxiliar o desenvolvimento?! Que tal começarmos por estas ajudas?
O CEMADEN, citado na publicação
realmente tem um papel importante na gestão dos desastres naturais, no entanto
é uma ação de gestão de desastres e não sobre a solução dos problemas. Uma parte
importante das consequências dos desastres naturais, como enchentes e
deslizamentos é a ausência do Estado em oferecer boas condições de moradia a
população mais pobre, ao invés de incentivar a especulação imobiliária. Também temos um post sobre isso.
A erradicação da pobreza, citada
na página 14 é um caso maior, que vale um post a parte. O fim da pobreza é uma
questão política e não econômica ou ambiental, em primeira instância como
discute muito bem Esther Vivas.
As iniciativas científicas em
prol das questões ambientais mostram como as agências de financiamento à
pesquisa é ideológica e privilegia projetos que legitimem determinada linha de
pensamento sobre a problemática ambiental, assim as ciências humanas, que
muitas vezes atingem o problema radicalmente, tem permanecido no limbo da
produção científica.
E por fim o capítulo “O futuro
que queremos”, em menção ao relatório publicado pela ONU. O primeiro item diz
que nossas práticas consumistas atentam a manutenção na natureza, por que então
se permite a produção industrial da forma como está? A propaganda livre e pouco
regulamentada como está? E a obsolescência programada que já falamos por aqui,
por que ainda existe e é permitida?
No item 2: Por que ainda se
permite a produção de equipamentos não tão econômicos se já se tem dominada a tecnologia
de produtos eficientes em termos de energia? A quem serve a produção de
equipamentos ineficientes?
Item 3: Se são as indústrias de
papel e celulosa as grandes poluidoras e consumidoras de água, por que eu
(enquanto sociedade civil) tenho de economizar papel!????!!! E se os papéis
reciclados são a solução para o problema, que tal diminuir seu preço?!
Item 4: Organizar coleta
seletiva? Pra quê?! Na maior parte dos municípios brasileiros só existem
lixões, lá os resíduos serão todos misturados novamente, o chorume não será
tratado e será deste material que muitas pessoas vão sobreviver. A dificuldade
de implementação da lei dos resíduos sólidos esta aí para mostrar o quão
comprometidos estão os governos com a questão ambiental.
A EA Crítica não flore sua arvorezinha... |
Há itens até o número 8, não
deixe de lê-los com espírito crítico, nas entrelinhas do discurso
ambientalista.
Só pra finalizar, a publicação é
mais uma representante do mais do mesmo, ensinando crianças a jogarem lixo no
lixo, reciclar papel e não se discute as origens do problema, para bem longe da
educação ambiental crítica.
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