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23 de fev. de 2012

Mulheres e soberania alimentar

No post Mulheres e economia, pontuamos como tem se dado a participação feminina na economia, com algum protagonismo e autonomia, mas não como fruto de um aumento de consciência e organização de gênero, mas pela feminilização da pobreza.

Esther Vivas contribui com a ideia da pobreza ser mais acentuada entre as mulheres com uma leitura das relações patriarcais no mundo desenvolvido e subdesenvolvido, para sabermos que a opressão a mulher não é uma limitação territorial.


Às mulheres compete variadas responsabilidades no campo, dependendo da comunidade, mas de modo geral associada a plantação, colheita, alimentação familiar, coleta de frutos, manutenção de sementes, etc. Nos países do sul, entre 60 a 80% da produção de alimentos é garantida por mulheres, sendo este índice de 50% no mundo. Em muitos países da África, as mulheres representam 70% da mão de obra no campo e até o ano 2000 representaram 83% da mão de obra assalariada no campo.

Com o advento do neoliberalismo no campo, a produção de alimentos aumentou (assim como a fome, “paradoxalmente”) sob condições de expropriação de terras, modelo de agricultura capitalista, dizimação de comunidades e da autonomia do campesinato e precarização das relações de trabalho no campo, principalmente com o assalariamento. Nestas condições, as mulheres são o coco do cavalo do bandido, ou seja, já em condições precárias recebem salários até 30% menores do que dos homens e de quebra ainda levam dupla jornada com o trabalho doméstico invisível.

Portanto, não creia que a crise alimentar de hoje é resultado de uma população faminta crescente (a população duplicou enquanto a produção de alimentos triplicou), ou que necessitamos de mais tecnologia ou terras agriculturáveis. A crise alimentar que temos hoje é produto das práticas neoliberais no campo e na cidade, que aumentam a cadeia de produção e consumo e consequentemente aumentam as possibilidades de ganhos dos atravessadores, diga-se, agroindústria, dificultando o acesso aos alimentos de grande parcela da população mundial.

Assim, com alguma pesquisa e nenhuma tese de doutorado é possível perceber que discutir soberania alimentar frente a crise que temos hoje é romper com o modelo agrícola neoliberal e somar ao discurso a condição das mulheres no campo, garantir sua participação ativa e autonomamente, para que se defina, entre homens e mulheres, aquilo que melhor atende a suas necessidades alimentares.

Para tamanha autonomia e protagonismo, é de suma importância romper com as relações patriarcais no campo e na cidade fazendo com que as mulheres tenham acesso a terra, ao crédito, a escolha e a vida que escolherem, qualquer que seja ela.

Nas palavras da Via Campensina da Ásia:

“O feminismo é um processo que permite conseguir um lugar digno para as mulheres dentro da sociedade, para combater a violência contra as mulheres, e também reivindicar e reclamar nossas terras e salvar-las das mãos de transnacionais e das grandes empresas. O feminismo é a via para que as mulheres camponesas possam ter um papel ativo e digno no seio da sociedade” (Via Campesina, 2006).

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