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24 de ago. de 2011

Mulheres e a economia

Sempre vista como coadjuvante no cenário político e econômico,  à mulher sempre esteve determinado o papel social da maternidade, do cuidado com a prole a saúde do lar e, mesmo com o advento da mulher n o mercado de trabalho e com rompimento de algumas barreiras, ainda é vista como objeto e cobrada por seu papel dentro de casa.

Contudo, existem iniciativas que visam romper com esta forma opressora em que a mulher está atualmente, colocando-a como protagonista da mudança que escolheram. A contextualização do papel da mulher como agente de mudança não é nova, a elas sempre houve papéis de direção, gerenciamento, coordenação, mas também sempre encobertas e desvalorizadas, o que torna qualquer discurso neste sentido uma novidade.

O que ocorre atualmente é um movimento de valorização da mulher e seu papel fundamental para o desenvolvimento local, humano e sustentável. Em Afogados da Ingazeira (PE) foi criada a Rede de Mulheres para a comercialização solidária, que tem como foco a redução da pobreza na comunidade a partir da produção local de cerca de 450 mulheres, que antes limitadas ao espaço privado de suas casas não conseguiam comercializar seus produtos; organizadas, puderam discutir aspectos da gestão de seus negócios, obter acesso ao crédito e o mais importante, discutir o papel da mulher da sociedade.

Este é só um exemplo de protagonismo feminino mas que por trás carrega toda uma condição de opressão e pobreza. As mulheres atualmente compõem um quadro de feminilização da pobreza, inclusive nas capitais brasileiras, produto, dentre outros fatores, de um Estado machista que legitima ações econômicas semelhantes, visível principalmente na diferença salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma atividade.

Neste sentido, o aumento do protagonismo feminino não está associado a um aumento de consciência e organização de gênero, mas a uma condição de necessidade econômica. O tema do papel  da mulher na sociedade fica em segundo plano.

No livro O Banqueiro dos Pobres, Yunus deixa clara esta situação e o quão retrógrada é a economia para viabilizar a autonomia feminina e de outros grupos minoritários e/ou oprimidos. Muhammad Yunus é um economista de Blangladesh que propôs, na década de 1980, sob ondas de miséria e fome na Ásia e na África principalmente, um banco que oferecesse microcrédito exclusivamente para mulheres miseráveis da comunidade.

As mulheres foram escolhidas como público alvo do banco Grameen por seu papel na comunidade e sua responsabilidade junto a lar e aos filhos, o que aumentava seu comprometimento com o pagamento dos empréstimos, somado ao fato do Grameen ser a única instituição a oferecer ajuda real a elas.

Porém, por trás de todos os benefícios promovidos pelo banco, nunca discutiu-se porque todo esse ônus às mulheres e as possibilidades de dividir este papel social e econômico, visto que tinham que garantir os dois.

De modo geral, o livro conta a trajetória do Grameen, mas é uma grande fábula que discute o status quo sem oferecer, discutir ou promover uma real mudança social, econômica e política. Não está em discussão o fato da iniciativa ter tirado 12 milhões de cidadãos de Bangladesh da miséria, mas como promotor de mudança é falho, continua a perpetuar a diferença entre ricos e pobres mantendo o exército de reserva sempre disponível, no limiar da humanidade, para as necessidades do mercado. Quanto a questão do papel da mulher, fatores culturais eram árduos demais para serem enfrentados, mesmo sendo a causa do problema.

Em síntese, não poderíamos esperar mais do que isso de um economista, ainda que tenha estado em contato com um dos seus maiores representantes, Georgescu-Roegen que, renegado pela academia da época, hoje é lido como um vanguardista, mas esse é assunto de outro post.

O que fica é que, se a busca é por uma sociedade baseada no desenvolvimento sustentável em sua amplitude as minorias são peças-chave e o movimento de mudança está para além de políticas paliativas e muito menos em diminuir nosso tempo debaixo do chuveiro ou reciclar nosso lixo. O problema é estrutural e deve ser tratado com tal.

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