Fonte: http://blogs.codecommunity.org/mindbending/a-piada-do-rock-in-rio/ |
Nesta última sexta-feira, 22 de setembro, teve início o que é considerado o maior evento de música do país – o Rock in Rio (RiR). Eu fui na última edição brasileira, em 2001 (fazia tempo que o evento não dava as caras por aqui né?), e realmente é muito louco! Dada as proporções do festival, 7 dias, público de mais de 700 mil pessoas, mais de 150 atrações, é certo que o festival será um sucesso (até porque os ingressos estão esgotados faz tempo). Mas, se as ações anunciadas no Plano de Sustentabilidade do Rock in Rio 2011 serão realmente cumpridas e se o RiR ainda é um evento de rock, isso são outras histórias... Mas como este é um blog sobre questões ambientais, vamos nos ater somente ao plano de sustentabilidade deste evento.
O plano foi anunciado no dia 23 de agosto, apenas 1 mês antes do seu início, em uma coletiva de imprensa. Conforme noticiado, parece que foi mais um daqueles eventos midiáticos, com a presença de figurões políticos e do mundo dos negócios, todos tentando sair bem na foto – como se fosse possível né?
O festival, que conta com a parceria de longa data da instituição portuguesa Sociedade Ponto Verde, deverá ser o primeiro evento no Brasil a ter a cerificação 100R, selo internacional que atesta emissão zero de carbono e 100% de reciclagem. Além dessa certificação, o plano ainda prevê ações voltadas para a destinação correta dos resíduos, redução e compensação das emissões de gases de efeito estufa (GEE), programas educacionais, a campanha de incentivo ao uso do transporte público, acessibilidade e o projeto “Por um mundo melhor”, que arrecadará instrumentos musicais e os doará para ONG educacionais. Parece bastante coisa, mas vamos ver se isso tudo é realmente essa maravilha mesmo ou se não passa de mais um caso de greenwashing, daquele tipo: me engana que eu gosto.
Acho que aqui cabe uma definição do que é greenwashing. Este é um termo do marketing utilizado para designar uma campanha de uma organização cujo objetivo é passar para a opinião pública uma imagem ecologicamente responsável, enquanto fundamentalmente esta não é. Por exemplo: pode se fazer uma campanha afirmando que tal produto não utiliza uma certa substância em sua composição, quando essa substância já é proibida por lei, sendo portanto, totalmente irrelevante.
Andei fuçando rapidamente em alguns blogs brasileiros que relatavam algo sobre o plano de sustentabilidade para saber as opiniões sobre o plano e ver se a propaganda estava funcionando. E como era de se esperar, uma aprovação em massa! Digo que era de esperar pois os ditos movimentos ambientalistas, em sua maioria ainda acreditam e perpetuam a velha máxima – faça a sua parte. Como se a simples soma das ações nossas de cada dia, como reduzir o tempo de banho, separar o lixo para reciclagem, urinar no ralo e coisas do tipo, fossem realmente salvar o planeta do colapso que se anuncia. Mas quero deixar claro que não sou contra essas ações, somente que não podemos tomá-las como o fim em si, enquanto tem assuntos mais fundamentais e impactantes que merecem tanta atenção e dedicação, ou até mais. Enfim! Voltemos ao Rock in Rio.
Como vimos, o plano de sustentabilidade do RiR também caiu nessa armadilha do faça a sua parte, que acha que reciclar o lixo gerado no evento já lhe garante o título de sustentável. Engraçado que após o primeiro final de semana do festival, ficou até fácil criticar o assunto. Vamos aos comentários.
A tal campanha incentivando o transporte público, desde que foi anunciado o valor das passagens, já se sabia que era uma roubada. Quem for ao evento, pode pagar R$2,50 na passagem de uma linha urbana normal e descer a 1,5km da entrada ou pagar R$35,00 para descer na porta, utilizando um linha especial. Ao meu ver, isso significa que aqueles que optarem pela linha especial estarão pagando R$32,50 para andar 1,5km de ônibus. Nem taxi com bandeira 2 é tão caro! Nitida ação de segregação e exploração. E o pior é ver que mais de 20 mil pessoas utilizaram essa linha.
Outra. A reciclagem e destinação dos resíduos. Mais uma falácia. Para começar, de acordo com dados da prefeitura do Rio de Janeiro, foram retiradas aproximadamente 150 toneladas de lixo nos 3 primeiros dias do evento. Realmente, pelo que consta, o lixo foi separado e enviado para Usina de Jacarepaguá e triado pelos profissionais da Cooperativa Barracoop, que ficarão com toda a renda da venda dos materiais. Bom, 150 mil quilos de lixo... foram 300 mil pessoas... que dá meio quilo de resíduos por pessoa!!! Quase a média nacional diária. Para quem se diz sustentável né?... Pelas imagens e relatos divulgados pela mídia, a área interna da cidade do rock parecia um mar de copos plásticos, sacolas, capas de chuva, guimbas de cigarro e outras tantas coisas mais. Parece que as 520 caçambas foram poucas. E ainda tem mais. O serviço de varrição da área do festival ficou ao cargo da Comlurb, uma empresa pública, que deslocou cerca de 250 garis para esse trabalho. Tem rua no Rio ficando sem varrição e quem está pagando essa conta somos nós.
Sobre a acessibilidade. Nem vou me ater nesse assunto. Isso é obrigação. Nem deveria estar no plano. Assim como a campanha de doação de instrumentos, a lá “Criança Esperança” – você doa e eu fico com o reconhecimento. Assim até eu que sou mais bobo...
Compensação das emissões de GEE. Esse sim é o jargão do momento. Se considerarmos as emissões
do ciclo de vida dos materiais e equipamentos utilizados para organização, montagem, realização e desmontagem do evento, deslocamentos do público, artistas e funcionários, toda a energia elétrica gasta durante essas mesmas fases, dos alimentos, bebidas, brindes, campanhas promocionais, sei lá mais o que... acho que dará para cobrir todo o estado do Rio de Janeiro com plantas nativas. O que quero dizer com isso é que se de fato a direção do RiR realmente considerará nos cálculos das emissões todo o ciclo de vida do evento, desde sua concepção. Pelo menos isso, esperamos que sim.
Acho que está dado o recado. Que o RiR é um evento fantástico, isso sem dúvida. Mas merecer o título de sustentável, ainda falta muito – no meu ponto de vista pelo menos. Há quem discorde. Se é um caso de greenwashing? Tire suas próprias conclusões.
Bonus track: o neologismo do título, rockwashing é uma crítica minha quanto a perda da essência do rock’n’roll verificada desde a edição de 2001. Ainda insistem em anunciar o RiR como um festival de rock, conquanto só restou 1 ou 2 dias para esse estilo musical. Me dá até dor de barriga quando ouço isso. Quisera eu ter vivido os anos 70...
4 comentários:
a ideia fundamental de que esta nas mãos de todos e nas mãos de ninguém ao mesmo tempo!
como dizem, cão que tem muito dono morre de fome...
Bah, muito bom isso tudo que tu escreveu. É a mais pura verdade.
E por ultimo ali, daonde o Rock in Rio é um Festival de Rock? PELAMOR! Só falto o Justin Bieber chegar ali pra finalizar!
"Quisera eu ter vivido os anos 70.."
Bah, mto bom isso tudo que tu escreveu.
1° - se nao tivesse RiR não teria todo o lixo, então eles nao tao fazendo nada mais do que a obrigação deles em limpar tudo. Pelo menos deixar do jeito q estava antes.
2° - Há quanto tempo faz que o RiR não é mais Rock? MELDELS. please. Só faltou o Justin Bieber vir antes pra tocar ali...
"Queria eu ter vivido nos anos 70"
Pois é Aline. Pior que quem está limpando é um empresa da prefeitura e não a organização do RiR. E ainda fazem uma baita propaganda emcima disso! Deveriam mudar o nome para Pop in Rio! Muito mais sincero, não acha?
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