Páginas

8 de set. de 2011

O que esperar da Rio+20?

Para mim, o mesmo, nada. Não é uma questão de ser cética, mas realista.
Os eventos Rio+ qualquer coisa acontecem de tempos em tempos para discutir ações conjuntas entre os países no que tange as questões ambientais que envolvem todo o planeta.
O primeiro destes eventos foi a Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92. Os seguintes, Rio+10 e Rio+15, além de acrescentar novas ações e propostas, fizeram um balanço geral do que foi feito, o que deu certo ou não e o que nem mesmo foi tentado e, neste último grupo, está a maioria das deliberações do evento anterior. Na Eco-92 o foco foi os acordos globais para diminuição das emissões de carbono e atualmente é o aclamado (palmas para ele...) desenvolvimento sustentável, vinculado ao incentivo a energias limpas para o combate ao aquecimento global.
A conferência Rio+20, se for analisada somente pelo histórico do evento, não desagrada já que não atinge as mínimas expectativas daquilo a que se propõe. Um bom exemplo disto é a Agenda 21, criada e organizada durante a Eco-92. Muitos municípios e pessoas acreditam e trabalham para viabilizá-lo, porém, até hoje pouco pode ser visto de seus resultados.
Por outro lado, se formos analisar o que tem sido publicado a respeito da Rio+20 e do que esperar dela, as expectativas aumentam e para pior. Com foco na economia verde, a ideia é promover o crescimento econômico em bases sustentáveis e buscando a diminuição da pobreza.
Em termos práticos sabemos que é impossível, o crescimento proposto hoje é insustentável em todas as suas formas. No intento de diminuir a pobreza, a única possibilidade é incluir os desfavorecidos no mercado mundial, ou seja, incluir a população pobre no mercado de consumo na formação do PIB e, consequentemente, aumentar o consumo dos recursos naturais, cuja proposta é amplamente discutida no livro A Riqueza na base da pirâmide, de C. K. Prahalad.
De modo geral, todos estes eventos em prol do meio ambiente, desde Estocolmo, as Cop’s até as Rio+, tiveram como foco o debate da escassez dos recursos naturais e como proceder em relação a isso, sem discutir questões associadas a disparidades de apropriação dos recursos, as disputas e conflitos e o modelo econômico. O que foi feito a partir das denúncias de finitude dos recursos foi uma adequação das empresas a um gerenciamento ambiental e um descaso dos governos, vide o recente código florestal.
Nossa ministra do meio ambiente, Izabella Teixeira compactua com esta posição, já que pra ela é possível garantir crescimento sustentado e erradicação da miséria com o governo apoiando a iniciativa privada, segundo suas palavras.
E mais uma vez o setor privado se sobrepõe aos interesses populares. Em nenhum dos eventos mundiais para o meio ambiente foi dada ênfase às práticas das comunidades tradicionais ou camponesas que promovem, historicamente, o desenvolvimento sustentável ou a agroecologia, economia solidária, agrofloresta e as tecnologias sociais como um todo, isto porque estas iniciativas incentivam o movimento contra-hegemônico, que questiona a lógica da acumulação e o modelo capitalista.
Portanto, não há porque esperar mais da Rio+20. Novas formas de legimitar as decisões populares, para além das agências e instituições com o FMI, Banco Mundial e OMC devem ser criadas e legitimadas e não continuar a reunir esforços de quem realmente quer fazer a diferença em eventos fadados ao insucesso de suas propostas.

Um comentário:

Unknown disse...

que orgulho da minha amiga! sempre com opiniões inteligentes e fortes... beijos, Jana.