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21 de ago. de 2011

Dj's dos coletivos

Quem utiliza transportes coletivos no dia-a-dia ou esporadicamente...ou melhor, quem mora no Brasil, em qualquer lugar deste país já deve ter topado pela frente com um dos DJ’s dos coletivos, como estão sendo chamados. Estes DJ’s são encontrados comumente com um celular ou uma espécie de pequeno rádio (MC Hammer da atualidade) tocando uma música alta (não vamos entrar no mérito da qualidade musical ok?!) de forma a incomodar as pessoas ao redor ou por onde ele passa.

O assunto perpassa pela questão ambiental por dois motivos, ao meu ver. A primeira e mais explícita é a configuração de uma situação clara de poluição sonora, visto que o som dos aparelhos emite altos decibéis e sem qualidade alguma, já que o produto não foi feito com este objetivo. 

Por poluição sonora podemos entender toda e qualquer alteração nas condições normais de audição e, apesar de não se acumular no ambiente, pode provocar, além de distúrbios auditivos, alterações comportamentais e orgânicas, como insônia, estresse, agressividade, dores de cabeça, dentre outras, o que diminui a qualidade de vida das pessoas atingidas. Para o Organização Mundial da Saúde – OMS,  o nível tolerado é de 50 decibéis para não causar prejuízo ao ser humano.

Com o intuíto de controlar a poluição sonora foram criadas leis que regulamentam a emissão de ruídos em diferentes ambientes e até nas áreas de proteção ambiental – APA, por isso também o ato de causar poluição de qualquer natureza é previsto na lei de crimes ambientais (artigo 54, lei federal 9.605), mas nesse brasilzão a fiscalização é parca e a alteridade menor ainda.

Assim, se a poluição sonora for acima de 50 decibéis, nível o qual a lei de crimes ambientais se baseia, é previsto também crime por perturbação da tranquilidade pública e por lesão corporal, pois causa interferência na saúde do próximo.

O segundo motivo de estar tratando do assunto aqui é a questão da alteridade. Por alteridade entendemos que seja a condição de se colocar no lugar no outro constituindo uma relação interpessoal, na qual ocorre a valorização e o diálogo com as considerações que o outro coloca diante do conflito. Evidente que as pessoas que atuam como DJ’s dos coletivos nunca ouviram falar em alteridade, talvez não saibam seu significado e não foram educadas para tanto.

Analisando os motivos que fazem com que alguém atue como DJ de coletivo, entendo que seja um processo na busca de diferenciação dos outros em um mundo que insiste em homogeizar o ser humano. Neste caso, a diferenciação se dá pelo que se tem e não pelo que se é, pensa e produz coletivamente. O processo de homogeneização é contrário a nossa própria natureza, somos diferentes fisica, psicológica e culturalmente, ou seja, a diferença é inerente ao ser humano e por isso qualquer esforço nesta busca se torna um exagero. 

Pierre Bourdieu (1977) chama de “capitalismo simbólico” o acúmulo de produtos que apresentam o gosto e a distinção de quem os possui, no caso a música alta cumpre a mesma função.

Paradoxal e racionalmente, a sociedade tem construído desde a escola, pessoas arraigadas na valorização de suas diferenças pessoais e no robustecimento do individualismo, processo este dentro da lógica capitalista que se expressa pela dominação social, controle ideológico e exclusão das minorias. O ser humano se torna um objeto, uma mercadoria com o objetivo de exploração e lucratividade. E não foi por menos, já que o aumento no grau de liberdade individual aconteceu às custas de tratar o outro em termos objetivos e instrumentalistas.

“Não havia escolha senão nos relacionarmos com ‘outros’ sem rosto por meio do frio e insensível cálculo dos necessários intercâmbios monetários capazes de coordenar uma proliferante divisão social do trabalho” (HARVEY, Condição pós-moderna, 1989, pág. 34)

No campo da psicologia, a situação é conhecida como ego hipertrofiado, a pessoa só enxerga a si mesma, seu mundo e suas necessidades, ausente de compreensão, cidadania, alteridade familiar, educacional e social.

Assim, penso que nossas práticas devem ser orientadas para a alteridade e não pela autoridade, no caso ao impor uma determinado som, e em como lidamos com as necessidades do outro. O ideal seria que nem mesmo precisassemos criar leis para reivindicar alteridade e perder tempo produzindo videos, propagandas como esta abaixo e posts como este.

Um comentário:

SamWilliams disse...

Adorei a Postagem....Obrigado pela parceria, estamos aqui pra ajudar todos e a tudo...

Sambora Williams