Em se tratando de educação ambiental, acredito que quanto mais possibilidades oferecemos em nossas práticas para abordar determinado assunto, mais acessível e disponível o assunto se torna para atendermos as diferentes formas de compreensão dos educandos.
É evidente que existem N formas de se abordar e compreender o mundo e é neste ponto que a escola formal peca, ao tentar disciplinar a criatividade e a multiplicidade de compreensões possíveis direcionando somente para a noção de mundo “acertada”. Por “acertada” compreendo como a forma abordada por Foucault a partir da noção de norma como princípio do ensino para uma educação estandardizada.
“O normal tomou o lugar do ancestral, e a medida o lugar do status, substituindo assim a individualidade do homem memorável pela do homem calculável” (FOUCAULT, Vigiar e punir, pág. 184)
Tal modelo produz, sobretudo, homens úteis para o interesse de classes e assim, a educação formal age, atualmente e como sempre, como mecanismo de dominação.
Dessa forma penso que, para além educação formal, não existe forma “acertada”, somente a diferente que deve ser trabalhada pensando sempre na alteridade.
Na multiplicidade de possibilidades existentes devemos, como educadores lembrar das limitações humanas inerentes, que no caso, ao abordar determinado assunto, este não será finalizado, sempre havendo algo que ficou a ser dito.
As pessoas de modo geral, captam o mesmo mundo de forma diferente e para atingí-las devemos buscar utilizar o maior número de recursos possíveis e conforme consigamos utilizá-los. Por recursos, em educação ambiental, podemos entender qualquer material que venha a compor determinado assunto, como textos, vídeos, imagens, atividades, dinâmicas, slides, etc. Estes recursos devem ser selecionados conforme o grupo que se quer atingir, o tempo e as condições disponíveis, o assunto a ser trabalhado, sua capacidade como educador em utilizar determinado recurso e a qualidade do mesmo; o recurso não precisa necessariamente ter sido amplamente divulgado, criado com este objetivo, exaurido tempo e investimentos, sua criatividade como educando é também muito importante.
Um exemplo interessante é o video: Zero. O contexto é simples, charmoso, sensível. Há um narrador (em inglês) e poucas falas (grunhidos) entre os personagens, mas que podem ser desnecessários. A sinopse é um menino de lã que vive em mundo onde as pessoas (outros bonecos de lã) são taxadas por um número escancarado que nasce com elas e conforme o menino cresce acompanhamos cenas de preconceito, bullying, marginalização, abuso de poder, invisibilidade e também cenas de alteridade, carinho e amor. O final é ótimo e vale pena ser visto e trabalhado em diversos assuntos além dos citados acima, como tolerância às diferenças, a homossexualidade, a violência física, psicológica e moral, o papel da escola e inclusive sobre nossas diferenças inerentes enquanto seres humanos, de que tratei no post Dj's dos coletivos.
Por fim, acredito que os assuntos a serem abordados, com qualquer que seja o recurso, devam estar atrelados a um contexto maior de forma a permitir a formação de um cidadão crítico sobre o mundo que vive e deseja.
fonte:
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir, 2010.
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