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27 de mai. de 2012

INPE lança cartilha sobre meio ambiente e sustentabilidade


Nossa, essa cartilha é a master furada!! Leiam e não me desenganem.

A cartilha intitulada "O futuro que queremos - Economia verde, desenvolvimentos sustentável e erradicação da pobreza" apresenta toda a introdução da questão ambiental, desde a ECO-92 até os dias de hoje na RIO+20, com todo o otimismo dos ambientalistas abraça árvore que esperam que líderes mundiais venham a salvar o planeta, até porque já ficou bem claro onde cabe a participação popular neste evento.


Não vou retomar a crítica da sustentabilidade e da economia verde, que já exaurimos por aqui, mas algumas frases apresentam claramente (ou não) a ideologia que rege a publicação. Eis a pergunta já na página 8: “É preciso abandonar ou reduzir drasticamente o uso de tudo que conquistamos em termos de consumo e tecnologia do mundo moderno, para viver de maneira sustentável?”...1º: nós quem??? Quem somos esse nós?! Até onde tenho lido esse mundo de tecnologia e consumo não faz parte da totalidade dos moradores da Terra, aliás da minoria deles, portanto enquanto se consome no mundo do conto de fadas se produz no mundo de verdade, e não simplesmente, mas as custas de vidas, trabalho e exploração do homem e da natureza, assim para viver de maneira sustentável, sim, você terá que abrir mão de suas tecnologias e consumo ilimitado.

Um ponto importante e positivo é que não houve incentivo as hidrelétricas como fonte de energia, já que muitos (inclusive e principalmente o governo) insiste em afirmar que as hidrelétricas são uma fonte sustentável de energia, só porque utilizam um recurso renovável, desconsiderando todo o impacto ambiental e humano da obra, mas também já falamos sobre isso por aqui.

E mais uma vez na página 10 eles generalizam o mundo, sem diferenciar os que consomem e os que produzem: “Estudos mostram que desde os anos 80 a demanda da população mundial por recursos naturais é maior do que a capacidade do planeta em renová-los.” Desde bem antes dos anos 80 a desigualdade não permite que todos os representantes humanos consumam da mesma maneira, e isto inclui itens básicos para a vida, como água de qualidade e alimentos, portanto e novamente é uma parte pequena da população que tem demandado da natureza tamanha quantidade de recursos.

A parte de redução da pobreza é ótima, já que segundo a publicação temos que dar condições aos países menos desenvolvidos de encontrar caminhos para se adaptar e sobreviver, no caso se adaptar e sobreviver diante da previsão do aquecimento global. Neste caso, já fica claro que as mudanças realmente acontecerão (apesar deste evento ainda não ser um consenso científico). Depois me pergunto que condições seriam estas? Começando por devolver os bens naturais expropriados, igualdade de voto em organizações mundiais, nacionalizar empresas públicas e acreditar que os países subdesenvolvidos sabem o que é melhor para eles, e para longe com esse papinho de auxiliar o desenvolvimento?! Que tal começarmos por estas ajudas?

O CEMADEN, citado na publicação realmente tem um papel importante na gestão dos desastres naturais, no entanto é uma ação de gestão de desastres e não sobre a solução dos problemas. Uma parte importante das consequências dos desastres naturais, como enchentes e deslizamentos é a ausência do Estado em oferecer boas condições de moradia a população mais pobre, ao invés de incentivar a especulação imobiliária. Também temos um post sobre isso.

A erradicação da pobreza, citada na página 14 é um caso maior, que vale um post a parte. O fim da pobreza é uma questão política e não econômica ou ambiental, em primeira instância como discute muito bem Esther Vivas.

As iniciativas científicas em prol das questões ambientais mostram como as agências de financiamento à pesquisa é ideológica e privilegia projetos que legitimem determinada linha de pensamento sobre a problemática ambiental, assim as ciências humanas, que muitas vezes atingem o problema radicalmente, tem permanecido no limbo da produção científica.

E por fim o capítulo “O futuro que queremos”, em menção ao relatório publicado pela ONU. O primeiro item diz que nossas práticas consumistas atentam a manutenção na natureza, por que então se permite a produção industrial da forma como está? A propaganda livre e pouco regulamentada como está? E a obsolescência programada que já falamos por aqui, por que ainda existe e é permitida?

No item 2: Por que ainda se permite a produção de equipamentos não tão econômicos se já se tem dominada a tecnologia de produtos eficientes em termos de energia? A quem serve a produção de equipamentos ineficientes?

Item 3: Se são as indústrias de papel e celulosa as grandes poluidoras e consumidoras de água, por que eu (enquanto sociedade civil) tenho de economizar papel!????!!! E se os papéis reciclados são a solução para o problema, que tal diminuir seu preço?!

Item 4: Organizar coleta seletiva? Pra quê?! Na maior parte dos municípios brasileiros só existem lixões, lá os resíduos serão todos misturados novamente, o chorume não será tratado e será deste material que muitas pessoas vão sobreviver. A dificuldade de implementação da lei dos resíduos sólidos esta aí para mostrar o quão comprometidos estão os governos com a questão ambiental.
A EA Crítica não flore sua arvorezinha...

Há itens até o número 8, não deixe de lê-los com espírito crítico, nas entrelinhas do discurso ambientalista.

Só pra finalizar, a publicação é mais uma representante do mais do mesmo, ensinando crianças a jogarem lixo no lixo, reciclar papel e não se discute as origens do problema, para bem longe da educação ambiental crítica.

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