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4 de abr. de 2012

Obsolescência programada


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O nome indica que um produto se torna obsoleto em determinado tempo, não por estar gasto de tanto usar ou por algum acidente, mas porque as empresas produtoras assim o querem, afinal, saberão quando e em que quantidade terão de produzir mais e, sobretudo, lucrarão mais. Este tempo de retorno do produto é então reduzido para que nós, consumidores tenhamos que comprá-lo novamente e em breve.

Um produto também se torna obsoleto quando passa a ser ultrapassado, desatualizado, antiquado, etc. e isso a ciência da publicidade e do marketing fazem com talento, tamanha angústia que sentimos quando temos um produto que não atende mais aos critérios estéticos ou de software daquele momento.

Este fenômeno se propaga na década de 1930 nomeado por descartalização, logo após a crise de 29, quando o empresariado percebe que é mais lucrativo economicamente produzir algo que estrague rápido do que algo que dure muito tempo. Mas tudo começa mesmo em 1920, quando produtores de lâmpadas de reunem para determinar a durabilidade delas, acordando pelas 1000 horas úteis de hoje, portanto já com características de falta de ética e imoralidade.

São estas mesmas empresas que vendem o slogan de sustentabilidade, de serem ecológicas, socioambientais, eco e outras infinidades de adjetivos que potencializam o espaço da marca no mercado, simplesmente por utilizarem menos insumos, papel reciclado, consumirem menos água ou reutilizarem água da chuva.

E são as mesmas que produzem um bem durável para ser comprado em breve, sem possibilidade de troca de peças que quebram, riscam, baterias substituíveis e que também inviabilizam financeiramente o conserto, posto que o produto novo sai “mais em conta”. Também são as mesmas que entopem lixões com o descarte de carçadas, produtos químicos e/ou tóxicos... Isso não seria caso para os órgãos de defesa do consumidor, caso não estivessem normatizados para a indústria e não para os consumidores? Fazem tudo isso protegidas, já que anunciam nas embalagens ou manuais a durabilidade programada dos produtos, no melhor do “ele sabia o que estava comprando...”, como se houvesse muita escolha.

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Estes produtos permeiam nossa vida hoje, estão presentes desde os celulares até impressoras, lâmpadas, calçados, etc. e a obsolescência dos produtos já não depende somente da qualidade do produto ou da matéria-prima utilizada, nós, enquanto consumidores cobramos de nós mesmos e dos outros a permanência em um estado eterno de atualização, de comprometimento com a tecnologia e com o novo.

Contraditoriamente ( ou não), algumas outras empresas tem trabalhado de forma diferente, fazendo produtos mais duráveis e vendendo-os com esta propaganda, como se não fosse evidente que o consumidor quer um produto que dure mais mantendo sua qualidade, ou que tecnologia também está associada a qualidade e durabilidade dos produtos.

A crítica à obsolescência programada é maior do que fazer uma reflexão sobre o seu hábito do consumo (isso é trabalho para a ecopedagogia), passa pelos ditames de uma ordem de cima para baixo que não nos deixa escolha quando sentimos necessidade real do produto; passa também pelo processo produtivo destas mercadorias, que utilizam constantemente e em grande quantidade muitos recursos naturais. Estas mercadorias tem de ser vendidas a preços mais baixos para poderem ser consumidas mais rapidamente e, portanto, os trabalhadores de chão de fábrica também sentem diretamente as consequências deste fenômeno em seus salários.

Sabemos que em 1930, quando a obsolescência programada passou a ser um padrão, a questão ambiental ainda engatinhava, mas a permanência deste sistema produtivo nos dias de hoje, com todo o discurso socioambiental, é inadimissível, (assim como já o era quando foi criada). Isso faz pensar até que ponto a problemática ambiental é um problema da sociedade civil ou da classe empresarial-político-econômica ou, pior, é só uma questão de greenwashing (falamos sobre isso no post Rock In Rio 2011: Greenwashing? rockwashing).

A questão da sustentabilidade é um todo de ações, posicionamentos, atitudes, muito diferente da soma delas ou da presença de alguma delas. Uma empresa sustentável é bem mais do que aquela que mantém uma praça bem cuidada em frente a sua sede, que distribui computadores para escolas públicas, que possui um greenbuilding ou que instala um sistema de carona entre os funcionários. Por isso, a existência de uma empresa sustentável é uma contradição dentro do sistema capitalista, a coexistência do adjetivo sustentável com outros tantos que esta empresa possua é impossível.

Não é possível ser sustentável quando a lógica do sistema esta baseada na produção e consumo e na usurpação da mais-valia do trabalhador.

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