Em meu último post os comentários estiveram relacionados a questão do consumo na sociedade capitalista e como este tem provocado, direta ou indiretamente, os problemas ambientais.
Realmente está claro que é a partir do consumo e dos desejos da sociedade que as empresas balizam suas práticas e a exploração dos recursos naturais, mas e quando são estas próprias empresas que ‘criam’ nossas necessidades? Do tipo produtos Polishop.
http://consumidoreconsciencia.blogspot.com/2010_05_01_archive.html |
Para somar, o movimento ambientalista baseado na ecopedagogia insiste na questão do consumo responsável, do cada um faz sua parte (já comentado aqui no blog) que o mundo melhora, sem passar pelo questionamento da macroestrutura que produz a exploração insaciável dos recursos, a desigualdade social e econômica e a própria necessidade que hoje temos de criar mecanismos de administrar a natureza. Esta ideia isenta todo o sistema produtivo, institucional e político dos danos ambientais, sociais e econômicos que produz, responsabilizando somente o consumidor e este, reservado no momento do consumo, sem qualquer consequência pós-consumo.
Em contrapartida, existem pesquisas que questionam esta forma de ver as relações produtivas, como a realizada pela pesquisadora Julia Coelho de Souza, que destaca:
“a construção e a distorção das imagens relacionando os aspectos saudável, ecológico, puro e sustentável a partir de uma matriz produtiva que se sustenta na pobreza, na desigualdade, na devastação da biodiversidade e da transgenia, realizada através das articulações de detentores de commodities, de sementes e do grande monopólio alimentar, é algo assustador”.
Julia aponta para a diferença entre consumo responsável e a responsabilidade no consumo, sendo que primeiro está associado a bonitinha sociedade verde, que recicla papel e faz xixi no chuveiro, consume produtos ecológicos e anda de bicicleta aos finais de semana para “ajudar a natureza”, mas que acabou de adquirir um SUV e vai dar a 15º barbie para a filha no dia das crianças.
Já a responsabilidade no consumo reflete mais profundamente sobre a questão ambiental e sobre o consumo, passando pela origem da matéria-prima ao fortalecimento do papel da mulher na sociedade. A questão-chave é: Em que tipo de produção este consumo se insere?
Neste sentido, a reflexão sobre o consumo compreende mais do que a aquisição do objeto em si e do seu significado, mas a consideração do ambiente econômico, político, social e ambiental que determinado produto foi concebido, produzido e comercializado, para além da imagem do produto, recaindo sobre processos e mercados.
Um exemplo desta situação são os produtos orgânicos, como açúcar e café; estes são plantados e cultivados sem o uso de agrotóxicos e, portanto, orgânicos, mas ainda assim em sistema de monocultura ou sob exploração do pequeno agricultor e sem a responsabilidade social junto a comunidade e a seus trabalhadores, tanto é que a adesão a SA 8000 e ISO 26000 estão limitadas a raras empresas. Caso emblemático é da União, grande empresa brasileira produtora de açúcar (que produz inclusive açúcar orgânico), onde foi encontrado trabalho escravo em sua rede de parceiros.
Mas a questão do orgânico é pano para outra manga, mas que está relacionado com a imagem do saudável, ecológico, puro e sustentável. Hoje tudo é sustentável, até nosso cocô, desde que você cague sobre um monte de serragem, em meio a uma ecovila, distribua seu adubo na floresta preservada e faça o ritual da lua quando Júpiter estiver em oposição ao Sol e Saturno em quadratura com Marte. Aí fica fácil!
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