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7 de ago. de 2011

Tecnologia social para sistemas autogestionários

Até pode parecer redundante que exista uma tecnologia específica para sistemas autogestionários, posto que se organizam e tem objetivos diferentes dos sistemas capitalistas. No entanto, não é.

O tipo de tecnologia que se desenvolveu e se desenvolve atualmente está inserida em um ambiente político-econômico capitalista, que legitima a demanda e que tem como base indicadores de produtividade estimados em termos monetários, ou seja, nestes indicadores não são consideradas as externalidades associadas a produção.

As externalidades podem ser de cunho ambiental, quando não consideram a deterioração e os impactos que determinada produção causa ao meio ambiente, de cunho econômico, quando determinada produção não contabiliza a possibilidade de desequilíbrio da economia de alguma comunidade afetada direta ou indiretamente, ou de cunho social, associada aos impactos da produção sobre a saúde física e psicológica de seus funcionários e os que a ele estão relacionados, como sua família ou comunidade, ou de determinado grupo afetado.

Assim, podemos entender que as tecnologias que são utilizadas atualmente, que trataremos aqui como tecnologia convencional, são insustentáveis em termos sociais, econômicos e ambientais, já que as externalidades oriundas dos processos produtivos capitalistas não entram no cálculo técnico-econômico que desenvolve as tecnologias convencionais.

Dagnino caracteriza as tecnologias convencionais da seguinte forma:
  •  Mais poupadora de mão-de-obra do que seria conveniente
  • Possui escalas ótimas de produção sempre crescentes
  • Ambientalmente insustentável
  • Intensiva em insumos sintéticos e produzidos por grandes empresas
  • Sua cadência de produção é dada pelas máquinas
  • Possui controles coercitivos que diminuem a produtividade
Em contrapartida, devemos enquanto sociedade, desenvolver tecnologias que  objetivam os sistemas autogestionários de maneira que viabilize a inclusão social dos extratos sociais mais vulneráveis as variações político-econômicas. A esta inclusão devem ser colocadas algumas ressalvas.

Sabemos que somente a inclusão social não altera a estrutura do capitalismo, posto que o verbo incluir, neste caso, é inserir determinada população dentro da lógica de produção e consumo e o mesmo ocorre com os empreendimentos autogestionários que, para serem viáveis e sustentáveis tem de ser competitivos em relação ao grande capital, o que de certa forma torna estes empreendimentos um deles e não uma alternativa de mudança. Assim, não podemos visualizar nos empreendimentos autogestionários um caminho para o socialismo, conforme Paul Singer entende, mas como uma forma de garantir renda e autonomia imediata.

Salva estas considerações, as tecnologias sociais  a serem desenvolvidas são, conforme Dagnino:
  • Adaptadas a pequeno tamanho físico e financeiro
  • Não discriminatória (patrão x empregado)
  • Orientada para o mercado interno de massa
  • Liberadora do potencial e da criatividade do produtor direto
  • Capaz de viabilizar economicamente os empreendimentos autogestionários e as pequenas empresas
Além disso, o desenvolvimento de uma nova cultura institucional e educacional é fundamental para a viabilização dos empreendimentos autogestionários, posto que as pessoas que se envolvem com tecnologias sociais, em geral, não estão preparadas para lidar com a mudança estrutural de produção solidária.

Fonte: DAGNINO, Renato. ATecnologia social e seus desafios.

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