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9 de ago. de 2011

Prática de educação ambiental crítica: Maquetes

O objetivo deste post é apresentar a maquete como metolodogia para o trabalho em educação ambiental crítica, materializando assim os conceitos desta vertente e em que medida pode ser útil para o posicionamento crítico-ambiental do educando.

A realização de maquetes consiste na elaboração de uma representação em escala de alguma estrutura ou recorte espacial, podendo ser física ou virtual. No caso das maquetes para uso em educação ambiental é interessante que, se possível, sejam elaboradas pelos próprios educandos já que permite a construção do conhecimento desde sua elaboração.

O ideal é que seja escolhido um recorte espacial significativo para o grupo, e caso este seja muito heterogêneo escolher algum lugar que tenha representatividade para o grupo todo. Será neste recorte que algumas idealizações e ideias pré-concebidas serão derrubadas e novas idealizações serão construídas ao longo do trabalho. Ao final darei um exemplo para facilitar a materialização das ideias apresentadas.

A utilização de um recorte espacial para realizar a maquete esta pautada na compreensão do espaço vivido na medida em que a educação ambiental se volta cada vez mais para a problematização e resolução de problemas locais associados a um posicionamento crítico em relação a este recorte e como se relaciona com o restante.

Realizada a maquete, será possível a visualização daquilo que foi conceituado por Milton Santos como acúmulo de tempos desiguais, ou seja, é no espaço que se materializa as realizações da sociedade, é portanto, um produto social e fruto de processos sociais sobre o mesmo espaço. Neste sentido, podemos abordar com a maquete a questão de inseparabilidade entre o homem e aquilo que ele constrói, visto que é impossível compreender os objetos sem entender os processos associados a sua construção. Roger Brunet apresenta esta ideia: 

“o espaço geográfico é formado pelo conjunto de populações, por suas obras, suas relações localizadas, pelo seu meio de vida (...). Ele não pode ser confundido com os objetos que o povoam (...). Ele nasce com o trabalho das sociedades e só tem fim com ele.”

Neste espaço (no caso, na maquete), estará presente as coisas produzidas pela sociedade e suas inter-relações, incluindo os elementos sociais, econômicos e ambientais. É através dos objetos  e das inter-relações que poderão ser abordadas questões como a poluição, a desigualdade social e econômica, o organização do espaço e a segregação, etc. Estas abordagens podem variar de acordo com os objetivos e o recorte espacial da maquete. 

Podemos desenvolver também, por meio da maquete uma reflexão crítica a respeito da individualidade e da coletividade ao entender que a construção do espaço é um trabalho coletivo, em sociedade, e que é neste mesmo espaço coletivo que ocorre a segregação entre os homens, destacando uma contradição da sociedade. A segregação entre os homens esta associada a uma diferenciação de poder entre eles e esta diferença aparece em como lidamos com o meio ao nosso redor. A propriedade da terra é uma questão válida para ser abordada aqui, pois é a própria expressão das relações de poder e controle sobre determinado espaço que no fundo é coletivo, posto que foi construído e só é valorizado socialmente.

Para ilustrar, vamos usar como exemplo a elaboração da maquete de um lixão próximo a uma escola. Inicialmente, os alunos fizeram trabalhos de campo para visualizar o local, os problemas, as casas, as áreas públicas, conversar com as pessoas... depois, fizeram mapas utilizando material cartográfico oficial e as informações coletadas e com este instrumento fizeram a maquete, buscando ser fiéis as características físicas do local. Com a maquete materializada, começaram a ser trabalhados os conceitos de natureza natural e construída, como os alunos enxergam e se relacionam com o lixão (muitos deles eram filhos de catadores ou trabalhavam no lixão), o relacionamento dos alunos com o problema da poluição relacionada ao lixão como o cheiro, os resíduos, os vetores de doenças, a contaminação da água, entre outros. Junto com este trabalho ambiental, foram feitos questionamentos sobre a localização do lixão, quem determina os locais de despejo e com que embasamento técnico a área foi escolhida, porque ainda existem esses problemas com tanto desenvolvimento tecnológico, e em uma análise macro foram feitos estudos sobre o crescimento das cidades  e a relação com as atividades econômicas, a periferização, o consumo, o papel do Estado, entre outras análises.

As questões acima abordadas geralmente passam a margem das problematizações feitas com o uso de maquetes e pela educação ambiental como um todo, por isso achei necessário este post, sabendo que o assunto não finda aqui e que não abordou todas as possibilidades.

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