Não é de hoje que sabemos da
impossibilidade de alcançar a neutralidade científica. A começar porque somos
humanos e, por isso, seres construídos socialmente, com crenças, posições,
ideologias. E porque cientistas são, antes de serem pesquisadores, seres
humanos.
Para isso existem os métodos,
metodologias, comissões, orientadores, avaliações, bancas examinadoras, etc.
que apontam para o máximo de neutralidade possível, baseando a pesquisa e os
resultados somente em dados e fatos, tendo consciência inclusive das limitações
intrínsecas a própria ciência.
Também sabemos que as
instituições também não são neutras, elas respondem a determinados interesses,
principalmente quando são instituições públicas. O problema é quando estes
interesses não são os mesmos interesses públicos, ou seja, o desenvolvimento e o
bem estar da população.
Isso tudo ficou claro
recentemente quando a pesquisadora da Embrapa Débora Calheiros obteve ganho de
causa quando foi perseguida pela chefia local após divulgar resultados de uma
pesquisa que apontava que as 135 hidrelétricas em construção no Pantanal
acarretariam sérios problemas ao regime de cheia e danos irreversíveis ao bioma.
A liminar concedeu a paralisação
das emissões de licenças ambientais das hidrelétricas na Bacia do Alto Paraguai
e que nenhuma licença seja emitida até que a Avaliação Ambiental Estratégica de
toda bacia seja realizada.
A situação é muito pontual e
apresenta o compromisso que poucos pesquisadores possuem com seus objetos de
pesquisa. A pesquisadora também é acusada de insubordinação e de ser ideológica
no exercício da função. Agora me diga: o que não é ideológico?! Acho que apenas
a limitação que o acusador tem em relação ao conceito.
Mais do que isso, o evento aponta
a manipulação e controle que os interesses privados detém sobre as instituições
públicas que deveriam estar trabalhando em prol do desenvolvimento do país. No
caso, a própria Constituição Federal descreve que o poder público tem o dever
de conservar a qualidade ambiental do Pantanal.
Especificamente em relação a
Embrapa, outros interesses tem pontuado a atuação da instituição, bastante
vinculada a pesquisa e liberação dos transgênicos no país, como em relação ao
feijão transgênico, liberado às pressas pela empresa em setembro de 2011.
Fonte: Centro de Estudos Ambientais
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