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20 de nov. de 2011

Algumas questões sobre o vazamento de óleo na Bacia de Campos

Apesar de já passados quase 15 dias do início do vazamento de petróleo na Bacia de Campos – RJ, no Campo do Frade, sob responsabilidade da petroleira norte-americana Chevron-Texaco, acho que ainda está em tempo de deixar algumas informações para pensarmos depois com nossos botões.


Antes, gostaria somente de informar que as informações fornecidos a seguir foram extraídas do blog Tijolaço, o único canal, ao meu ver, que realmente está cobrindo este evento de maneira séria e responsável. Todos os créditos ao Fernando Brito pelo excelente trabalho.

 1. O vazamento está ocorrendo por uma fenda no leito marinho próximo a plataforma a Sedco706, da Transocean, a mesma proprietária da Deepwater Horizon, que provocou o acidente no Golfo do México. A cimentação do poço terminou no último dia 17, mas ainda verifica-se óleo vazando na região.


2.  Suspeita-se que a Chevron-Texaco tentava alcançar a camada de pré-sal no Campo do Frade, pois... porque mais alguém, em sã consciência, usaria uma sonda com capacidade para perfurar 7600 metros, muito mais cara aliás, para perfurar somente 2500 metros? Se essa suspeita for confirmada, este será um episódio emblemático de descaso a soberania nacional.


3. O vazamento iniciou-se no dia 7 de novembro, após uma elevação da pressão na coluna de perfuração devido a subida de gás e/ou petróleo, e a mancha de óleo foi identificada pela Petrobrás no dia 9. A Chevron-Texaco limitou-se a informar que o vazamento era devido a causas naturais somente no dia 10, em nota. Somente 2 dias atrás a Chevron-Texaco confessou a culpa pelo vazamento.


4. A grande imprensa somente começou a noticiar o ocorrido a partir dia 15 de novembro, quando entrou em cena a Polícia Federal. Até este momento somente se deu ao trabalho de reproduzir as notas oficiais da Chevron-Texaco e da ANP.


5. A plataforma utilizada pela Chevron-Texaco tem 35 anos e estava aposentada, atracada no Mar do Norte como apoio de hospedagem para outra plataforma. Deram uma garibada nela e mandaram para o terceiro mundo, por um preço 50% inferior ao práticado pelo mercado.


6. Achevron-Texaco informou que o volume de óleo vazado estava em torno 300 barris por dia. No entanto, cálculos da ONG SkiTruth efetuados com base em imagens de satélite (vide imagem que ilustra este artigo) chegaram ao valor de 3700 barris por dia, que ocupavam até o último dia 12 uma área de 2380 Km2.


7. Há indícios que a Chevron-Texaco está utilizando técnicas não regulamentadas para a retirada do óleo na área do vazamento e ainda empregando uma quantidade de barcos muito abaixo da informada.


8. Há indícios também, conforme culpa assumida pela Chevron-Texaco, que a pressão do poço foi subestimada. Traduzindo: para se economizar tempo e recursos, a empresa em questão reduziu a cimentação do poço, não seguindo o preconizado no EIA. Houve um erro técnico que deve ser avaliado pelos peritos, mas principalmente, houve um crime indiscutível de omissão de informações.


Estes são alguns pontos que levantei e que julgo serem importantes para uma reflexão posterior sobre o fato ocorrido. Sabemos que os danos ambientais de um vazamento de óleo dessa proporção são incalculáveis. A região está a 120 Km da costa, e existe o risco dessa mancha alcançar a região de Búzios e Arraial do Cabo, devido a um vórtice da corrente maritima. E pior, a região também é parte da rota de migração da baleias Jubarte e golfinhos. Não sei até que ponto os royalties pagos por essas companhias compensam esses estragos.


Por tudo o que foi dito, e sem adentrar a questão mais profunda que casos como esse são tão somente fruto da hegemonia e do poder capitalista dessas grandes corporações petroleiras, vimos a consideração e importância que a Chevron-Texaco dispensou a nossa imprensa e órgãos reguladores e fiscalizadores. O petróleo é minimamente um recurso estratégico e escasso e neste caso, nosso! Privilegiar fontes alternativas e tecnologias de eficiência energética aliada a um novo padrão de consumo seria uma solução quase que ideal. Enquanto aguardamos esse dia, apoio o maior controle estatal da Petrobrás, com utilização interna de sua produção aliada a grandes investimentos em estudos e técnicas de prevenção de acidentes e fiscalização pesada por parte da ANP. Críticas são bem vindas! Comente ai.

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