Saiu no começo do mês duas
notícias curiosas. Uma delas dizia que 94% dos brasileiros se preocupam com as
questões ambientais, mantém boas práticas ambientais (diga-se reduzem o consumo
de água e energia, até porque isso tem uma relação direta com o bolso e não com
a consciência ambiental) e a maioria estaria disposta a pagar mais caro por
produtos ambientalmente corretos.
Na contramão, as micro e pequenasempresas não acreditam em ganhos financeiros gerados por práticas sustentáveis.
Aí que entra a curiosidade, já que o mercado é mantido pelo consumo e os
consumidores disseram que pagariam mais por produtos verdes, o que os
empresários estão esperando?!
Alguém está sendo hipócrita, me
parece. Ou ambos.
Associado as ações da Agenda 21,
as boas práticas ambientais tem pouco vínculo com um questionamento político e
econômico mais amplo, muito associado a gestão do lar e o que o indivíduo pode
fazer (sozinho) para garantir um meio ambiente saudável, assim nada melhor do
que separar seu lixo, apertar menos a descarga, não gastar papel, etc...e o
melhor, diminuir o consumo de água e energia porque isso afeta diretamente seu
bolso, com poucos questionamentos a respeito do candidato político em que vota,
ou na geração de empregos verdes desde que seja garantido o crescimento
econômico do país e eu tenha o meu quinhão de miséria.
A hipocrisia é tamanha que se
defende a desaceleração do crescimento devido ao avanço das mudanças
climáticas, mas ri a toa quando vê que a Petrobrás (“queridinha do Brasil”) vai
aumentar o número de empregos em um setor poluidor e que somente 18% dos brasileiros
está disposto a mudar seu consumo em prol do meio ambiente. Será que a
contradição tem que ser mais explícita?
Do outro lado, o empresariado
deve esperar algum tipo de subsídio econômico ou isenção fiscal para sua boa
prática ambiental, que em pouco se diferencia das práticas do lar, continua
reduzido a economizar energia, água e papel, novamente porque afeta diretamente
seu balanço no fim do mês. Os dados da pesquisa do Sebrae apontam: a maior
parte das empresas consultadas pratica todas as boas práticas acima, porém 51%
não utiliza material reciclado em seu processo produtivo, 83% não fazem
captação da água da chuva e 50% não recicla o lixo eletrônico ou pneus. Tudo
isso ainda é caro, dá trabalho, exige investimento e o retorno é pontual, e
como vimos, o consumidor não está assim tão interessado em produtos verdes.
Ademais, a boa prática ambiental
no setor privado, assim como no público deveria ser obrigação e não favor.
Convenhamos...que discurso é esse de pagamento por serviços ambientais que não
caminha?
E por fim, para 50% dos brasileiros
o principal questão ambiental do Brasil é o desmatamento na Amazônia, porque o
problema ambiental ocorre mesmo onde tem a cor verde no mapa né?! Nem mesmo há
consenso sobre quem é o maior responsável pela poluição ambiental, dividindo
entre indústria, sociedade civil e governos.
Melhor mesmo é que esse negócio
de problema, questão ambiental fique assim sem dar nome aos bois porque ninguém
aparece como carrasco e a gente vai levando com pode, sem reflexão e ação.
Guardado o contexto, essa tirinha também cabe |
Atualizando este post (16/07/2012), a Apple acaba de retirar seu aparelhos do sistema de certificação ambiental dos Estados Unidos, o que isso significa?! Das duas, uma...ou as duas: não tem valor representativo manter boas práticas ambiental consolidando o termo "não compensa", porque o valor do produto não tem ganhos significativos e/ou o consumidor não dá valor para empresas com boas práticas ambientais. O fato torna-se ainda mais trágico quando as exigências da certificadora são limitados a facilidade de desmonte dos produtos com ferramentas comuns e a possibilidade de separar os componentes tóxicos.
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