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5 de fev. de 2012

A grande fálacia de C. K. Prahalad

Crítica e análise de textos e livros é algo que neste ano de 2012 pretendo fazer aqui no blog. Estivemos (e digo no plural pois me refiro a Juliana também) de férias do blog, mas trabalhando muito na pousada que administramos em Cumuruxatiba-BA. E para iniciar essa tarefa, neste primeiro post de 2012, falarei um pouco sobre um livro que só recentemente li, mas que já a algum tempo estava na estante aguardando sua vez. Me refiro ao famoso “A riqueza na base da pirâmide”, de C. K. Prahalad. Não vou me ater neste texto em como o livro está estruturado e outros pormenores para não me alongar muito. A minha idéia é uma crítica mais abrangente.

O autor (Coimbatore Krisnarao Prahalad) foi um dos mais influentes especialistas em estratégia empresarial e possuía um grande prestígio no meio acadêmico e também no mundo dos negócios. Indiano de nascimento, mas de mente estadunidense, faleceu neste país no dia 16 de abril de 2010, aos 68 anos.

Prahalad é conhecido como o pai da riqueza na base da pirâmide, e neste seu livro discute estratégias e formas de se erradicar a pobreza no mundo através da atuação das grandes corporações multinacionais. Este livro foi um de seus últimos trabalhos, e assim como os anteriores, tornou-se rapidamente um best seller.

Mas como sempre, nesse ínterim entre as multinacionais e a base da pirâmide há algumas coisas que ao meu ver não se encaixam. Alguns podem pensar – quem é este tal de Leonardo que se acha em condições de refutar o grande Prahalad, que passou mais de 10 anos estudando esse assunto? Eu realmente não sou tão graduado, mas tenho a virtude de ser cético quando ouço falar em boa vontade corporativa por gurus de mercado.

Prahalad define a base da pirâmide (BP) - social e econômica - como aquelas 4 bilhões de pessoas do mundo que vivem com menos de 2 dólares por dia. Até ai beleza. Mas só até ai mesmo! No restante do livro o autor traz uma teorização (muito bem ilustrada inclusive) com inúmeros cases já em pleno funcionamento em diversos países subdesenvolvidos, de como as corporações multinacionais podem ampliar a sua base de negócios, fornecendo produtos e serviços formatos para a BP, de tal forma a aumentar seus lucros concomitante com a redução da pobreza. E para mim, é aqui que mora o perigo.

A teoria contida no livro se inicia falha ao não tocar, em parte alguma, na origem dessa pobreza. Não se interroga “o porque” ou de que forma” o sistema capitalista gerou a situação que caracteriza a base da pirâmide. E ao não questionar essencialmente essa origem, o autor, cujo posicionamento é claramente liberal, acredita que a solução está em quem (ou no que) a gerou.

Para ser mais exato. A solução para Prahalad seria a instauração de uma relação dita ganha-ganha entra as corporações multinacionais e a BP. De que forma? As corporações ofereceriam produtos e serviços formatados para esse público, através de variadas formas de inovações (como a embalagem individual, por exemplo), transformando a BP em consumidores (trazendo-lhes diginidade, afinal, quem não consome não é digno – ou seria digno apenas de pena?...). Dessa forma, teriam acesso a este enorme mercado com 4 bilhões de novos consumidores. E não para por ai. Para tal empreitada, ainda contariam com a criação do que chamou de “ecossistema baseado em mercado para a criação de riqueza”, no qual a corporação multinacional assume o papel central de onde emanam as normas, metas, contratos, valores e tudo o mais a ser respeitado pelo restante da cadeia produtiva e de distribuição. Isso tudo aliado a uma desregulamentação governamental. O mercado, como vimos com as últimas crises financeiras, dá conta de se auto-regular. Ah tá!

Ufa! Um parênteses. Claro que o que acabei de expor em poucas linhas esta esmiuçado em mais de 100 páginas do livro, mas acredito não ter me equivocado, atentando que a minha leitura e compreensão é obviamente moldada por uma ideologia particular.

Ao meu ver, descontada a visão preconceituosa do autor com relação aos pobres, sua solução é no mínimo inocente (pois senão seria indecente mesmo!). Esta não é capaz, por exemplo, de solucionar um dos maiores males do capitalismo, responsável direto pela geração da pobreza que é a questão da distribuição da riqueza. Não leva em consideração a real necessidade de toda a tralha (tecnológica ou não) que será oferecida e consumida por essas 4 bilhões de pessoas. Não considera o impacto ambiental que o aumento do consumo irá gerar. Aliás a visão ambiental do autor é restritíssima! Não considera formas autóctones de conhecimento e valores. O único valor considerado é aquele oferecido pelo dinheiro. Não considera toda a extenalização de impactos ambientais e sociais necessários para se manter os preços das mercadorias e serviços baixos o suficiente para poderem ser consumidos. Em suma, a proposta é o aumento do mercado consumidor para gerar lucros cada vez maiores para as grandes corporações, mascaradas de boas samaritanas.


Em outro artigo (Ecossocialismo: alternativa para a atual crise socioambiental) já discuti mais detidamente o que acredito ser a solução para atual crise que vivemos, ou pelo menos, o que irá nortear o longo caminho. Ali se encontram as resposta onde falham as soluções apontadas por Prahalad. Boa leitura!

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