Apesar de já passados quase 15
dias do início do vazamento de petróleo na Bacia de Campos – RJ, no Campo do
Frade, sob responsabilidade da petroleira norte-americana Chevron-Texaco, acho
que ainda está em tempo de deixar algumas informações para pensarmos depois com
nossos botões.
Antes, gostaria somente de informar
que as informações fornecidos a seguir foram extraídas do blog Tijolaço, o
único canal, ao meu ver, que realmente está cobrindo este evento de maneira
séria e responsável. Todos os créditos ao Fernando Brito pelo excelente
trabalho.
1. O vazamento está ocorrendo por
uma fenda no leito marinho próximo a plataforma a Sedco706, da Transocean,
a mesma proprietária da Deepwater
Horizon, que provocou o acidente no Golfo do México. A cimentação do poço terminou no último dia 17, mas ainda verifica-se óleo vazando na região.
2. Suspeita-se que a Chevron-Texaco tentava
alcançar a camada de pré-sal no Campo do Frade, pois... porque mais alguém, em
sã consciência, usaria uma sonda com capacidade para perfurar 7600 metros,
muito mais cara aliás, para perfurar somente 2500 metros? Se essa suspeita for
confirmada, este será um episódio emblemático de descaso a soberania nacional.
3. O vazamento iniciou-se no dia
7 de novembro, após uma elevação da pressão na coluna de perfuração devido a
subida de gás e/ou petróleo, e a mancha de óleo foi identificada pela Petrobrás
no dia 9. A Chevron-Texaco limitou-se a informar que o vazamento era devido a
causas naturais somente no dia 10, em nota. Somente 2 dias atrás a
Chevron-Texaco confessou a culpa pelo vazamento.
4. A grande imprensa somente
começou a noticiar o ocorrido a partir dia 15 de novembro, quando entrou em
cena a Polícia Federal. Até este momento somente se deu ao trabalho de
reproduzir as notas oficiais da Chevron-Texaco e da ANP.
5. A plataforma utilizada pela
Chevron-Texaco tem 35 anos e estava aposentada, atracada no Mar do Norte como
apoio de hospedagem para outra plataforma. Deram uma garibada nela e mandaram
para o terceiro mundo, por um preço 50% inferior ao práticado pelo mercado.
6. Achevron-Texaco informou que o
volume de óleo vazado estava em torno 300 barris por dia. No entanto, cálculos
da ONG SkiTruth efetuados com base em imagens de satélite (vide imagem que
ilustra este artigo) chegaram ao valor de 3700 barris por dia, que ocupavam até
o último dia 12 uma área de 2380 Km2.
7. Há indícios que a
Chevron-Texaco está utilizando técnicas não regulamentadas para a retirada do
óleo na área do vazamento e ainda empregando uma quantidade de barcos muito
abaixo da informada.
8. Há indícios também, conforme
culpa assumida pela Chevron-Texaco, que a pressão do poço foi subestimada.
Traduzindo: para se economizar tempo e recursos, a empresa em questão reduziu a
cimentação do poço, não seguindo o preconizado no EIA. Houve um erro técnico
que deve ser avaliado pelos peritos, mas principalmente, houve um crime
indiscutível de omissão de informações.
Estes são alguns pontos que
levantei e que julgo serem importantes para uma reflexão posterior sobre o fato
ocorrido. Sabemos que os danos ambientais de um vazamento de óleo dessa
proporção são incalculáveis. A região está a 120 Km da costa, e existe o risco
dessa mancha alcançar a região de Búzios e Arraial do Cabo, devido a um vórtice
da corrente maritima. E pior, a região também é parte da rota de migração da
baleias Jubarte e golfinhos. Não sei até que ponto os royalties pagos por essas
companhias compensam esses estragos.
Por tudo o que foi dito, e sem
adentrar a questão mais profunda que casos como esse são tão somente fruto da
hegemonia e do poder capitalista dessas grandes corporações petroleiras, vimos
a consideração e importância que a Chevron-Texaco dispensou a nossa imprensa e
órgãos reguladores e fiscalizadores. O petróleo é minimamente um recurso
estratégico e escasso e neste caso, nosso! Privilegiar fontes alternativas e tecnologias
de eficiência energética aliada a um novo padrão de consumo seria uma solução
quase que ideal. Enquanto aguardamos esse dia, apoio o maior controle estatal
da Petrobrás, com utilização interna de sua produção aliada a grandes
investimentos em estudos e técnicas de prevenção de acidentes e fiscalização
pesada por parte da ANP. Críticas são bem vindas! Comente ai.
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