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27 de out. de 2011

Escolas democráticas e a sustentabilidade

Quando falamos em escola logo vem a mente espaços padronizados com carteiras enfileiradas, lousa, cadernos, com professores, direção, coordenação e estudantes, com o objetivo de socializar e ensinar conhecimentos aos últimos. 

Quando olhamos criticamente estes mesmos espaços logo percebemos que são alcançados estes objetivos, em maior ou menor grau. Os estudantes saem socializados, humanizados, normatizados e com algum conhecimento, transmitido de cima para baixo aos não iluminados.

Falar do insucesso do sistema escolar vigente é mentira, ele alcança seus objetivos com mira certeira; normatiza os estudantes ensinando-os as regras de quem manda e quem obedece dentro e fora da escola; transmite o respeito a razão e a ciência em detrimento da lobotomia e da intuição; controla o desejo e a vontade humana mais primordial para o legitimação da regularidade, disciplina, autoridade e penalidade sob a égide da pedagogia que:

“(...) em nome da supremacia do conhecimento, desenvolve técnicas de aprendizado que visam o treinamento de corpos mais dóceis e eficientes” (República das Crianças, pág. 160)


No entanto, com o novo postulado moderno que é a proteção ao meio ambiente, o alcance das características de uma sociedade sustentável em todos os seus aspectos (isso é importante de dizer, porque atualmente o adjetivo sustentável é setorizado) é impraticável. Uma sociedade sustentável prevê primeiramente a democracia entre as partes e, se focarmos somente nesta característica, verificaremos a inviabilidade do modelo escolar de hoje.

Quando atualmente pratica-se a educação ambiental nas escolas, a verdade é que talvez pratique-se alguma parte, mas não sua totalidade, já que a ausência de democracia, posto que esta não pode ser feita pela metade, inviabiliza a ação.

Não para isso, mas atualizada, as escolas democráticas ressurgem como um caminho possível para o alcance da sustentabilidade, iniciando pelo processo socioeducacional.

A começar pela liberdade, que para Rosseau e Tolstói (este último sendo precursor das escolas democráticas) é a única forma de se atingir a perfeição de um sistema educativo, posto o entendimento de que torna os sujeitos responsáveis por suas experiências e permite um desenvolvimento global (Rep. das Crianças, pág. 63), e que por sua vez é tolida em todos os sentidos no modelo educacional vigente.

Nesta mesma linha de pensamento, conceder aos próprios estudantes seu ritmo de desenvolvimento, acompanhar a natureza de interesse e aprendizado que ele necessita é conceder também o maior sinal de respeito, confiança e de responsabilidade a ele, aproximando-o de seu autoconhecimento e dando liberdade de escolher o que quiser, na maior amplitude que isso possa significar.

Educar uma criança para a autoregulação significa (...) incentivar os sonhos que ela pode realizar (...) tentar encontrar o amor e acabar com o instinto destrutivo criado pelo ódio, limitar a necessidade de obediência apenas aos casos que coloquem em risco a vida ou que interfiram na liberdade alheia, e não forçar jamais uma opinião” (Rep. das Crianças, pag. 99) 

Nesta concepção de liberdade, a aprendizagem pluralista impera, em contraposição a escola convencional, que ensina uma parte ínfima daquilo que é importante sabermos para a vida, e até por isso pesquisas feitas com egressos de escolas democráticas pelo mundo mostraram que se formaram pessoas com maior sentimento de autonomia, autodisciplina e senso democrático, em detrimento da busca de segurança e estabilidade.

Em tratando-se de segurança, Bauman entende que as sociedades historicamente buscam o equilíbrio entre segurança e liberdade, mas que sempre existirá uma desequilíbrio entre elas, havendo em algum momento maior segurança e menos liberdade e vice-versa.

A educação pluralista, neste caso, prioriza a liberdade, visto que segurança não garante a possibilidade de sossego interior e a conquista da sabedoria humana, e sim o medo e introspeccção.


Assim, a educação pluralista valoriza o autoconhecimento ao favorecer a singularidade de cada um dos estudantes porque coloca o controle do aprendizado em suas mãos e, consequentemente, a conquista de autoconfiança em suas escolhas e em sua capacidade de escolher e, especialmente e não principalmente, a descoberta de seus próprios talentos, a descoberta “da particularidade que você sente que é você” (J. Hillman).

Por fim, minha experiência no Projeto de Gente e a longa experiência de escolas democráticas pelo mundo, apesar de pontuais, revelam a viabilidade e o sucesso deste investimento no futuro e na sustentabilidade, usando termos capitalistas e utilitaristas, mas pensando para muito além deles, principalmente para aquelas pessoas que, envolvidas com a questão ambiental sempre se deparam com o bonito discurso, mas com a impossibilidade da práxis e o “como” se perde nos devaneios daqueles que escrevem.

Mudando a frase acima: vai ser sinistro quando o mundo for governado por uma geração que só sabe o que se aprende na escola...
 Singer, Helena. República das Crianças, 2010.

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